quinta-feira, 11 de abril de 2024

Você não é branco você é pardo


“O presidente negro”, único romance de Monteiro Lobato, ficou muitos anos esquecido, por vários motivos, entre eles não macular a imagem do mais importante autor de histórias infantis do país, infelizmente,não conheço outro(a) que o tenha superado 


Qual a mácula do “Presidente Negro”? É um romance tese, defende uma ideia ou causa, que causa? A eugenia, não apenas o ódio pelos negros , o que já seria o suficiente para macular a imagem de Lobato, mas sobretudo o ódio e pavor pela misturas de raças. Ele acreditava na existência de raças.


No romance Lobato mostra Os Estados Unidos como exemplo do que não deveria acontecer aqui, os negros e brancos não racistas se unem e elegem um presidente negro. A solução para impedir o avanço dos negros e , como se dizia na época, mestiços, era esterelizar todos.Os nazistas fizeram isso com os negros da Alemanha, esterelizaram crianças negras e impediriam casamentos interraciais.


Escrevi “Você não é branco, você é pardo” como resposta não só ao romance de Monteiro Lobato, mas aos racistas e eugenistas de hoje. 


Entendo que pardos não claros o suficiente para se passarem por brancos, ou não escuros o suficiente para serem chamados de pretos vivem no limbo racial, e catalisam todo desprezo, ódio racial e pavor em uma sociedade cada vez mais maniqueísta.


Esqueçam a ideia de que pardos e pretos são negros, na pratica, a vida de quem não se enquadra em padrões é angustiante. 


Pardos são sempre vistos com desconfiança, a cor da pele é vista como uma senha para algo ruim. “ Cor de mendigo”, “branco encardido”, “ cor de formiga” , são algumas infâmias que os pardos ouvem.


Eugenistas são incapazes de compreender que o que compromete o desenvolvimento do país são as desigualdade sociais, concentração de renda, o Estado a serviço do setor privado, privilégios triturando direitos, e não a raça (mesmo que seja apenas uma criação, uma ficção) ou  a mistura delas.


 Os “encardidos”  é um grupo odiado por ser a negação do ideal de raça pura. No universo racista ou se é preto ou se é branco, afinal, "cor de mendigo", como a minha, sempre foi vista como degeneração biológica.

Ediney Santana, autor do romance "Você não é branco você é pardo"